FILHOS

Dez filhos em dois casamentos

José Kairalla em seu casamento com Amélia Soubhie Kairalla teve 8 filhos:
1. Ana Olinda
2. Michel  -> www.familiakairalla.com.br/michelkairalla
3. Olga -> www.familiakairalla.com.br/olgakairalla
4. Waldomiro -> www.familiakairalla.com.br/waldomiro
5. Alice -> www.familiakairalla.com.br/alice kairalla
6. Nelly -> www.familiakairalla.com.br/nelly
7. Odete
8. João

Falecimento de Amélia

É José Kairalla, quem lembra: “Deus chamou minha esposa no dia 23 de novembro de 1923, então na cidade de Monte Alto. Quando faleceu, Teffeha deixou oito filhos, a mais velha, Olinda, com 16 anos e o mais novo, João, com um ano e 3 meses. As joias que possuía foram distribuídas entre as filhas e, uma pulseira de ouro, foi mais tarde oferecida para a minha nora Betty”.

“Após o seu falecimento, para cultuar sua memória, mandei construir no cemitério de Monte Alto um belo túmulo de mármore com o seu busto, também em mármore, de tamanho natural. Quando mais tarde mudamos para São Paulo, mandei construir no Cemitério São Paulo um jazigo para a família e providenciei a trasladação de seus restos mortais, inclusive o busto, para o novo jazigo”.

Casamento com Nagibe Elias

José Kairalla em seu casamento com Nagibe Elias teve mais dois filhos:
9. Eduardo -> www.familiakairalla.com.br/eduardo
10. Oswaldo

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As memórias de José Kairalla, anotadas nos anos sessenta, não incluíram os acontecimentos mais recentes de então, que em certa medida todos conheciam. O seu casamento com Nagibe Elias e o nascimento de Eduardo e Oswaldo, os últimos anos em que residiu em Monte Alto, bem como seu percurso de vida até finalmente se instalar à Rua Jardim Ivone, na Vila Mariana, em São Paulo, não foram registrados a partir dos relatos que ele fez.

Fica aqui, em aberto, o espaço para relatos e memórias de seus netos sobre esse período como, por exemplo, os que estão reproduzidos abaixo.

Outras histórias, estão disponíveis nos blogs criados para seus dez filhos, que também podem ser acessados pelo menu da página principal: Família Kairalla no Brasil.

Alguns relatos significativos estão transcritos abaixo.

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Rigor moral e ético

Uma passagem muito significativa é relatada num
dos artigos que Michel escreveu para o Jornal de Andirá,
sob os pseudônimos “Mister Chips” e “Che KAI”. 

“Quando eu era menino, em Monte Alto (SP),  mantinha meu pai um armazém, desses tão comuns pelo interior afora, onde se pode comprar desde uma agulha até um caminhão, como esses “magazins” em Trafalgar Square.”

“Sempre que eu solicitava a meu pai algum tostão para comprar uma guloseima, recusava-me, alegando que no armazém havia toda espécie delas, biscoitos “Tip- Top”, balas e “Si-Si”. Mas lá não havia sorvete, nem doces que eram vendidos em tabuleiros. Não adiantava dizer que o sorvete me faria mal e que o doce era feito numa bacia de lavar os pés. Ficava louco de vontade ao ver as outras crianças saboreando-se com eles, e no Natal enchia os sapatos de capim, amarrava as meias ao pé da cama e… cadê Papai Noel? Sempre fui um mau filho…”

“Resolvi então arregaçar as mangas e entrar em ação. Meu pai colocava o colete, que vivia recheado de moedas de 1 e 2 mil réis, sobre o espaldar de uma cadeira. Engatinhando com a máxima cautela, surripiava, sem nunca ter sido apanhado em flagrante – e assim terminou a minha esmolação.”

“Andava esquivando-me do sorveteiro e do homem do botequim do cinema, pois o regime era do “pendura”, e eles queriam receber, se não iriam cobrar lá em casa. Tive então que desapertar mais do que as moedas, e lá fui eu revistar os outros bolsos e, no escuro, saquei uma nota que para grande satisfação minha era de 50 mil réis. Fui à padaria e pedi um pão de tostão. Entreguei a nota e aguardei o troco. O bom homem logo percebeu a situação e disse que levaria pessoalmente o troco lá em casa, pois “tinha receio de que eu fosse perder dinheiro”. Implorei que não fizesse isso, devolvi-lhe o pão, queria a nota de volta…”

“Mas nada adiantou. Custei a che­gar em casa. Escondido na esqui­na, vi meu pai sair, mas, como se demorava muito, pulei a janela do quarto e fui direto para a cama. Mas, por que será que o sono não vinha? Pressenti a chegada de meu pai. Cerrei os olhos, bem apertado. Procurava não ofegar. Lembrava-me aquela maldita vara de marmelo. Como doía a malvada… De manhã, quis fugir. Mas (que azar!) a porta fechada e a janela trancada. Levaram-me arrastado ao pé da mangueira frondosa que se agi­gantava no quintal e que tantas vezes me acolhera e fui amarra­do ao tronco. Berrava com um danado, atraindo os vizinhos ao portão de casa. E, quanto mais ber­rava mais crescia a multidão dos espectadores.”

“E assim espiei minha falta perante a cidade que me viu nas­cer. Parecia o Judas que a molecada amarrava ao coqueiro do jardim público no Sábado de Ale­luia, coqueiro que se dizia ter sido pelourinho. Como complemento, fiquei de castigo, no quarto escu­ro, dois ou três dias. Mas, também, não tinha mesmo vontade de sair…”

“Um belo dia, deu-me meu pai uma nota de 500 mil réis e a chave da cómoda para que eu fosse trocar a nota em miúdo. Abri a cômoda. Um mar de notas em desalinho. Comecei a alisar as no­tas e fazer maços conforme os valores delas. A última seria minha. Mas, o interessante é que a vontade de subtrair ia decrescendo. Uma voz parecia dizer-me que não deveria prevalecer-me desta feita, pois haviam confiado em mim. Devolvi as chaves e os trocados.”

“Dias depois, fui chamado à sala para uma conversa a sós com e meu pai. Disse-me que se orgulhava muito de mim, pois o dinheiro havia sido contado e nada havia desaparecido. Em compensação, iria eu receber, daí em diante, uma pequena mesada para minhas despesas infantis.”

“Em resumo, eu só queria dizer que aquela encenação do Judas provocara em mim uma revolta íntima que ainda guardo no âmago como uma cicatriz. Mas, aquela chave depositada em minhas mãos, aquela confiança velada, aquela responsabilidade sobre meus ombros infantis foram a cura de um mal, ou melhor, de uma tendência que toda a criança tem, ainda que muitos pais façam por não ver ou por não querer enxer­gar.”

“Jovens, sei que vocês ansei­am por um voto de confiança. Sei que vocês não desapontarão os que confiarem em vocês. E eu con­fio. Abri o meu coração, porque compreendo e até justifico suas faltas, se as houver, pois como pai e professor as tenho em maior profusão, porque me encontro no ocaso e vocês mal começam a vi­ver. Não incorro no erro de os julgar precipitadamente. Vocês têm uma nova oportunidade, como eu tive como todos nós tivemos.”

“Não posso deixar de lembrar a mim mesmo que, por trás desse ar de santidade por que me deixei envolver, está o homem… esse des­conhecido, a sacolejar na igreja a sacola de óbolos. Grande hipócrita…”

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Reminiscências do velho Mister Chips:
Severidade  dos Professores 

Outro artigo de Michel, publicado em Andirá (PR) 

“Quando eu era criança, morávamos em Monte Alto, um lugarejo nos rincões do Estado de São  Paulo. Tinha um mestre, professor es­guio que, segundo voz corrente na cida­de, era descendente direto dos bugres. Naqueles idos, as classes masculinas eram dirigidas por professores e as femininas por professoras. Pelo que pude saber, meu professor ainda vive, aposentado. Era, na­quele tempo, de uma energia e braveza a toda prova, e eu lhe tinha verdadeiro pa­vor por causa de seu olhar penetrante e feroz. Se aprendia, era mais de medo dele. Medo de repetir de ano.”

“Analisando meu professor à luz da pe­dagogia moderna, apresentaria somente qualidades negativas. Gritava com a clas­se, ameaçava de nos pôr de castigo no porão onde estava o esqueleto e, mais, punha em cada aluno um apelido. O meu era “Turquinho”. Quando ele me chamava assim, eu desatava a chorar e, à saída, os companheiros iam me açulando, açulando, me gozando de “Turquinho” até me po­rem novamente em pranto. Tomavam-me depois a bolsa, provocavam-me, eu tentava correr mas era alcançado e apanha­va sempre.”

“Cansado de ser surrado diariamente, cheguei um dia em casa com o terno de veludo vermelho todo rasgado. A coitada de minha mãe, de tão santa memória, ao ver-me em tão lastimável estado tomou as minhas dores e levou ao conhecimento de meu pai o que se estava passando.”

“Meu venerando pai queria que eu me libertasse de uma timidez inata, enfrentando meus algozes. Dizia ele: “Não ensina teu filho – o mundo o ensinará”.

“No dia seguinte, lá pelas tantas, o professor é chamado à diretoria. Instantes depois, lá vem o bedel me chamar. Na di­retoria, deparei com meu augusto pai, mais o diretor e a “fera”, todo0s de pé. O dire­tor logo me interpela: “Alguma vez o pro­fessor chamou você de Turquinho?” Ergui meus olhos para os de meu pai em busca de coragem. “Não, nunca, os meus colegas é que me chamam”, respondi. Os três sabiam que eu estava mentindo, mas por que eu ali­mentava mais medo pelo professor do que por meu pai?”

“Voltando à classe, o professor deu-me um doce de leite que um aluno lhe havia dado. Ao chegar em casa, meu pai me esperava, alisando com o canivete uma varinha de marmelo. Outra surra. E das bem doloridas.”

“Passaram-se os anos. Hoje, como tudo mudou, mudei também e sou professor. Existem agora as Associações de Pais e Mestres, notáveis pela ausência dos pais, e aonde vão uns poucos para fazer alguma queixa contra algum professor. Existem agora os Grémios Estudantis, cuja finalidade é dar aos jovens uma personalidade, revelar líderes… ô, veio-me uma lembrança: os indianos, vão à Inglaterra beber da fonte da sabedoria e, quando voltam para sua pátria, usam de tudo que aprenderam na Inglaterra para combater os ingleses. Qualquer semelhança é mera coincidência…”

“Hoje, como pai e velho mestre já no ocaso, não posso deixar de expressar minha grande admiração pelos jovens desta geração. Compreendo perfeitamente o estado, de espirito desses jovens de hoje, frutos de uma geração atormentada pela guerra de há uns vinte anos, quando a agitação nos empolgava a nós, pais. Essa agitação espelha-se hoje nos semblantes de nossos jovens filhos, aos quais cabe da culpa a menor parcela. Aos pais cabe por certo a maior.”

“Nós, educadores, precisamos usar do bom senso e nos compenetrar da realidade dos fatos. Por mim posso garantir que, sendo razoável com esses jovens, deles recebo uma demonstração de carinho que me comove. Na qualidade de educadores, precisamos aparar os golpes Sem retribuir- lhes, receber as injustiças sem praticá-la. Nossos erros permanecerão indeléveis de preferência às nossas qualidades.”

“Oh! que saudades eu tenho da aurora de minha vida”…
Good Bye!

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Macktub

Num dos artigos que Michel escreveu para o Jornal de
Andirá, assinando como “Che KAI”, um relato doloroso.

“Ao terminar, o curso primário na pequena cidade que me viu nascer, Monte Alto, fui mandado à capital para completar os es­tudos. Ingressei num dos ginásios daque­la época, o qual hoje não mais existe porque tudo que é bom tende a desaparecer numa terra onde não há tradição, já que a matéria supera o espírito…”

“Educação à antiga, austera e rigorosa. Para se poder sair todos os sábados à tarde e aos domingos precisava-se tirar média 90. A média 75 dava direito a duas saídas mensais. Naqueles idos o ensino não era “secundário”…”

“Certo sábado de um novembro lúgu­bre, estava eu no recreio participando de um torneio futebolístico, quando o Diretor manda chamar-me. Assustado – não podia imaginar qual tivesse sido minha falta – para lá fui eu, todo trêmulo. O bom homem estava à porta, à minha es­pera. Notei um ar de tristeza em seu sem­blante. Disse-me que me aprontasse pois viriam buscar-me. Expliquei que eu não tinha média suficiente para sair. Retrucou que, em vista do meu bom comportamen­to, fariam uma exceção. Deu-me um cartão que, apresentado na rouparia, fez-me entregarem o terno de saída.”

“Depois de pronto dirigi-me à Diretoria. Lá se ,encontrava um homem que eu conhecia apenas de vista. Fez-me ciente de que meu pai telefonara, pedindo que ele levasse para nossa cidade minhas irmãs que e estavam internas em outro colégio. Mas, como ele não “poderia ir; lembrou-se-de mim e já havia feito a reserva de duas cabines para a viagem.

“Estranhei quando, ao passar por uma cidade onde estudava um mano meu, lá pela meia-noite, o camareiro bate à porta de nossa cabine e meu mano veio juntar-se a nós. Também ele desconhecia o motivo da tão repentina viagem.”

“O trem deveria chegar ao destino às 9,30 horas. Para nossa surpresa, numa estação próxima à nossa cidade natal, havia um carro à nossa espera, pois tínhamos que chegar antes dás nove. Feito o trasbordo, o carro parecia devorar aquelas estradas cheias de areão Faltavam dez minutos para às nove quando o carro invade a cidade, rumando logo para casa. Ao dobrar a esquina, vi uma multidão estacionada defronte ao velho casarão. Estacou rápido e fomos retirados de dentro com sofreguidão. Não havia tempo a perdei. Por que seria?”

“Entramos. Na imensa sala, sobre a mesa enorme, jazia um caixão. Círios acesos…”

“Assim, com 12 anos, perdi minha querida mãe.”

 

 Apresentação  –  Líbano-Síria  –  Juventude  –  Brasil 
Casamento  –  Filhos  –  Curiosidades  –  Fotos

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